Numa sentença que chega mais de seis anos após o crime que custou a vida à ex-vereadora e ativista brasileira Marielle Franco e ao seu motorista, Anderson Gomes, as penas são de 78 anos e 9 meses para Ronnie Lessa, que disparou os tiros mortais, e de 59 anos e 8 meses para Élcio Qeiroz, que conduzia a viatura dos homicidas.
Os réus estavam acusados dos crimes de triplo homicídio, tentativa de homicídio e recebimento do veículo furtado utilizado no crime, e enfrentavam penas que poderiam chegar a até 84 anos de prisão para cada um, conforme solicitado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
Já a defesa dos condenados, os advogados Saulo Carvalho, que defendeu Lessa, e Ana Paula Cordeiro, que defendeu Queiroz, pediram para que não fossem incluídas nas condenações a maior parte das agravantes solicitadas pelo Ministério Público, alegando, entre outros argumentos, que colaboraram com a elucidação do crime ao firmarem acordos com a Justiça.
Lessa, um dos assassinos confessos, prestou depoimento durante o julgamento e provocou reações ao pedir desculpas aos familiares da vítima, após descrever o crime.
O assassino revelou, ainda, que, antes de Marielle Franco, conhecida pela defesa dos habitantes das favelas, foi cogitada a possibilidade de atacar o ex-deputado e atual presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Ebratur) Marcelo Freixo.
"Eu preciso pedir desculpas às famílias. Eu perdi meu pai recentemente e foi horrível. Perder um filho deve ser a coisa mais triste do mundo, um marido. Infelizmente, não podemos voltar atrás no tempo. Ao confessar o crime, aliviei um peso dos meus ombros. Tenho a certeza de que será feita justiça", afirmou.
O julgamento aconteceu seis anos depois do crime ocorrido a 18 de março de 2018 e está, segundo Lessa, ligado a um esquema de exploração e especulação urbana orquestrada pelas milícias armadas do Rio de Janeiro.
No depoimento, Lessa também garantiu que a outra vítima do atentado, o motorista do veículo em que Franco viajava, Anderson Gomes, não estava nos planos, numa estratégia de defesa para o inocentar dessa morte.
Como parte desse acordo, em março, Lessa revelou que os interesses imobiliários das milícias que atuam no Rio de Janeiro, uma das suas principais fontes de financiamento, chocavam com as alegações de Marielle Franco, então vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e conhecida pela sua militância a favor das comunidades das favelas.
Na quarta-feira, primeiro dia de audiência, nove testemunhas convocadas pelo Ministério Público e pela defesa foram ouvidas até quase até à meia-noite (horas locais).
No mesmo dia em que ocorreram os depoimentos, centenas de manifestantes reuniram-se frente ao local do julgamento, muitos carregando girassóis e gritando "Justiça!"
Além dos dois executores, em março passado o deputado federal brasileiro Chiquinho Brazão e seu irmão Domingos Brazão, membro do órgão de fiscalização de contas do Estado do Rio de Janeiro, foram detidos sob suspeita de terem ordenado a morte da vereadora.
Estão ambos alegadamente ligados a grupos paramilitares criminosos, conhecidos como milícias, que cobram ilegalmente aos moradores por vários serviços e que, segundo as investigações, teriam ordenado que Lessa executasse o crime.
c/ Lusa